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sábado, 26 de março de 2011

Festa de Maio

A Festa de Maio é um evento centenário. É de grandes proporções, pois, atrai mais de 50 mil pessoas durante os 10 dias de festejos. O grande motor da festa é a devoção e agradecimento à São Benedito, que é negro. Essa festa inicialmente ocorria em abril, mas foi transferida para o dia 13 de maio, dia da “ Abolição da Escravatura” , no Brasil. Desde o começo, como até hoje, ela tem sentido religioso e, congrega nesse oceano, brancos e negros, velhos e moços, ricos e pobres. Com a passagem dos anos e adesão de milhares de pessoas, aglutinou em seu bojo, diversão e comércio. Existem tríduos, missas, apresentações e orações diversas. Da parte dos negros, as congadas.



Odete Coppos que foi uma pessoa que se envolveu muito neste assunto, pois, era pesquisadora de folclore, editou vários documentos abordando o assunto: - A Congada é a história de um reino africano. Quando o rei recebe a visita de um embaixador de outro reino, é surpreendido pela missão daquela autoridade que viera para matá-lo. O rei consegue a tempo descobrir o atentado e desarma toda a comitiva do embaixador. Suplicando misericórdia, o embaixador é poupado, pela intersecção do príncipe e, pela magnanimidade do rei. É isto que vemos na congada. É um teatro onde contemplamos reis, rainhas, soldados e autoridades africanas, envolvidos numa trama mas com final feliz. Suas roupas coloridas, onde o verde impera, espelhos colados nos chapéus, diversos instrumentos de percussão e até violinos. Seda e cetim, coroas e fitas multicores. Ostentam sempre os estandartes de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Só que os cânticos foram se alterando durante os anos e com letras falando de nossa realidade. Ao se postar ao lado de um cantor é quase impossível entender o que ele proclama, pois, muitos improvisam. Junto a essa coluna podemos ler alguns.
Em 1914, um cronista da época escreve:
“O dinheiro da espanhola
vai por trais, vai por diante;
por cima ele bota estopa
meus colega...
por baixo bota barbante.

Eu queria bem andá
pela parte que já andei,
um nego como eu na Orópa,
meus colega...
te servia pra ser rei!

Eu Sai de minhâ cedo,
mais pio do que um coitado,
não corro de paisano,
meus colega...
eu tenho medo de sordado!



Vá saindo mulatinha
não venha mais me atentá
sô fio do Rancho Grande,
meus colega...
não quero me machucá”.


O clima da cidade , durante muito tempo no mês de maio era frio, muito frio. Os negros se reuniam em torno das fogueiras para cantar, beber e homenagear durante toda a noite. Muitos tinham opiniões de que essa participação (congo e samba) não deveriam ocorrer, e, a policia vigiava de perto e, até obrigava a parar a cantoria em determinadas horas da madrugada. Mas este pensar nunca vingou.


E porque congo e samba na festa religiosa? O sincretismo religioso moldou essa participação. Identificando seu orixá ou outra entidade com um santo católico, a adesão do negro foi total, muito pelo perigo que corriam se os patrões percebessem o culto a deuses não católicos romanos.




A Irmandade de São Benedito criada em 1891 na presença dos irmãos da mesa e outras pessoas juntamente com o vigário Padre Antonio Luiz dos Reis França. Dois anos após, a 9 de julho de 1893 houve uma reunião onde o Irmão Procurador levou ao conhecimento da mesa que o vigário havia dado demissão ao segundo irmão procurador, Joaquim Antônio Porfirio e que não concordava com a atitude do padre. Obvio que esta situação paralisou a Irmandade. Dez anos depois, em 18 de dezembro de 1903, aconteceu a segunda e definitiva instalação da Confraria. A primeira festa realizada em conjunto, A Confraria e a Associação do 13 de Maio (parecida com o Club recreativo que existiu em Itapira), aconteceu no 13 de maio de 1910.

Giovanni Trani, italiano, chegou em Itapira em agosto de 1880. Casou-se em primeiras núpcias com Dona Maria Gonçalves de Moraes. Com o falecimento prematuro de sua esposa, três meses depois, casava-se com Dona Elena de Moraes. Estas mulheres são parentes de um dos fundadores de Itapira, João Gonçalves de Moraes. Possuidor de grandes terras, católico fervoroso, boníssimo, doou, por escritura particular, em 25 de março de 1897, à São Benedito (Irmandade de São Benedito) parte das terras da Chácara Maria de Moraes, longe do centro da cidade. Como já existia a Irmandade que funcionava na matriz da Penha, procurou todos os meios para construir a capela. Com a autorização do vigário geral de São Paulo, Monsenhor Antonio Pereira Reimão a mesma foi construída. A imagem de São Benedito que estava na matriz, foi transferida para a capela.




A IMAGEM DE SÃO BENEDITO NO NICHO




FOTO TIRADA DO ALTO DA RUA COMENDADOR JOÃO CINTRA - AO FUNDO, A CAPELA NO ANO DE 1890






Pela magnitude que alcança, a prefeitura teve que se responsabilizar pela parte secular, como a venda dos espaços, colocação de água e luz, fiscalização, reuniões preparatórias, apresentações da cultura local de raízes e folclóricas, etc. Foi através do Padre Candido, atual vigário dessa matriz, que os espaços em frente e ao lado da paróquia foram reorganizados para valorizar a parte mais importante da festa, que é a religiosa. A procissão do último dia, a chegada dos andores e das congadas (a maioria de outras cidades) em seu brilho, a grande queima de fogos de artifícios, eram empanadas pela diversão que ocorria em volta da igreja. Nos primórdios dessa festa, o padre detinha as funções e serviços religiosos ficando com a Irmandade toda a estruturação e coordenação do evento. Hoje, o vigário é o responsável por tudo, delegando aos grupos de leigos as diversas obrigações para que a festa aconteça da melhor forma possível. Existem ainda listas com nomes de pessoas responsáveis pela confecção das roupas dos vários andores que participam da procissão, dos anjinhos, do capitão do mastro, em que os nomes precisam ser agendados com muita antecedência devido à enorme procura na participação. Nestes dias, a cidade se encontra, tanto na parte religiosa como na profana. O parque de diversões, as barracas das irmandades com comida e bebida, churrascos, brinquedos, acessórios. Ver gente que há muito tempo não via. Para os jovens, a paquera e quem sabe um empurrãozinho do Santo Padroeiro para um bom casamento! Realmente ela é magnífica em todos os seus aspectos e no entrosamento humano para que ela continue acontecendo com todo esplendor e temor que se espera numa cidade interiorana.






Toda a matéria foi encontrada em livros e jornais tombados no museu histórico. São autores> Jacomo Mandatto, Odete Coppos, Conego Henrique de Moraes Matos e Arnaldo lemos Filho.

Eu achei tão interessante a congada que levei-a ao museu em 2008. A congada de Itapira se apresentou para uma classe da Escola Julio Mesquita. As crianças puderam apreciar o colorido das roupas, as danças e canções executadas pelo grupo de congada. Foi uma maneira de apresentar às crianças uma tradição da cidade, tradição centenária, e assim manter a memória deste importante aspecto da Festa de Maio. Abaixo coloco algumas fotos do evento:


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