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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O CARNAVAL DE ITAPIRA....DE ONTEM


O Carnaval em Itapira começou a ser comemorado desde o inicio dos anos 1900 , o que continua acontecendo até os dias de hoje. No começo, de um jeito, nos anos oitenta de outro. Sempre com a participação do povo que nunca arredou pé dos desfiles que eu conheci há 24 anos. Sim, conheço Itapira desde 1988 e, desde aquela época, presenciei os defiles realizados na cidade. É impressionante a presença de público que participa, aplaude e se diverte com o espetáculo que vai passando pela principal rua e que termina na Praça Bernardino de Campos. Eu também ajudo no acontecimento, pois, faço parte da Comissão de Carnaval pela Prefeitura, de 2007 para cá. Dá para perceber a vontade daqueles que integram um bloco ou uma escola, de eternizar aqueles momentos em suas memórias; mostrar-se ao público despidos de qualquer medo ou timidez; cantar o enredo ensaiado e ouvir o público responder; interagir com a multidão e se sentir feliz por aquelas poucas horas, quando a cidade prestigia o trabalho que cada escola ou bloco prepararam para aquele ano. Tem que ter muita disposição e amor pelas folias de Momo para preparar o que eles trazem e encenam nas ruas de Itapira.

Torrecillas pelas páginas da Cidade de Itapira, trouxe à luz do conhecimento, os carnavais de ontem e, é isso que começo a reportar agora. Algumas fotos foram cedidas gentilmente pelo sr Plinio M. Cunha através de seu blog: Tempo Saudosos.

O Sr. João conta que nos duas primeiras décadas, a folia se fazia nas ruas. Confete e serpentina era o combustível das festas.


O lança-perfume era permitido e começou a aparecer no carnval de 1917. Era o tempo dos mascarados.

A foto aqui é apenas uma ilustração


A pessoa se divertia, coberto dos pés a cabeça, num disfarçe. Os outros deveriam descobrir a identidade do folião até o final das festejos. Pepino Ferraiol era alfaiate, mas, no carnaval, abria um salão só com roupas para esse fim. E, os mascarados eram pessoas de grande poder financeiro e social, porque custavam muitos réis os adereços da tais fantasias. Nas ruas eram permitidas as bisnagas de agua.

A foto aqui é apenas uma ilustração


Baldes para molhar os distraidos existiam mas, era perigoso por conta das doenças que seriam adquiridas pelo folião que deixasse a roupa secar no corpo. As chuvas não davam trégua. Da gripe para a tuberculose era um pulo. No parque e na Praça principal, os músicos animavam os blocos e brincantes. Ele cita Gino Piva, Nenê Netto e a Banda Lyra do Maestro Niquinho. Naqueles tempos, quatro automóveis é que desfilavam pela cidade. As comemorações iniciavam às 16 horas, todos os dias de folia.


Bloco Carnavalesco “Flash”, de 1919.


Informa ainda que naqueles carvanais, haviam dois tipos de montarias, com cavalos bravios e destreza de seus donos e, outra, com caveleiros e cavalos de uma beleza sem par, cumprimentando as donzelas que viam pela cidade. Os carros alegóricos começam em 1910. Puxados por belos cavalos e feitos por familias distintas, como: Afonso Diniz, Del Picchia e outros. Ainda, no carvanal de 1910,


o Theatro Santana inovou, trazendo mulheres de são Paulo para enfeitar os carros e também o teatro. Claro que as “senhoras da sociedade” não deixaram seus maridos prestigiarem tal loucura. Um dos encantos dos carnavais de 1912 a 1920, foi o grito do ‘Zé Pereira” feito por Zé Leme. Em 1914, tivemos um carvanal que escandalizou a pequena Itapira: Sinhô Chagas, Juca Sales, os irmâos Jose e Menotti Del Picchia, Benicio Britto e Laudelino Pires Monteiro, motivados pelas chuvas que cairam nos dias de Momo, resolveram mostrar seu carvanal na quarta-feira de cinzas. O Pe João Calazans Nogueira e a sociedade não puderam fazer nada para impedir. Torrecillas acha que era mais politico que diversão o que fizeram, pois, todos eram da oposição. De 1926 a 1928, birlharam os blocos Fubá e Batutas. Com a transformação dos carros e a chegada de mais moradores, o carnaval obviamente, foi mudando.

Em 1905, alguém chamado Bianchini, desfilou pelas ruas com um urinol cheio de cerveja e algumas linguiças penduradas. A graça estava em se comer e beber no urinol, coisa que não agradou ninguém. O tal Bianchini embebedou-se, arrajando confusão e indo parar na cadeia. O sub-delegado era o Capitão João Cintra, filho do Comendador que dá seu nome a uma das principais ruas de Itapira. Outra brincadeira foi o “Sangue do Diabo”, trazido pelo Maestro Lafaiete Vieira em 1918. Consistia numa mistura de fenolfetefeina e amoníaco liquido, que uma vez jogado na roupa de um folião, a deixava com manchas vermelhas feito sangue. A duração da cor terminava em dois minutos e, de assustada a pessoa iria achar graça. Mas, uma das moças, fez o mesmo no terno branco do Maestro, que riu. Mas passados vários minutos, ele percebeu que a moça não usou sua fórmula e sim, tinta vermelha mesmo.

Já em 1927, após as 22 horas, quem podia, ia aos salões: Clube XV, Centro Comércio e Industria, Sociedade Beneficiente Operaria. Houve então o desfile do Corso.


Mais de 200 automóveis indo pela Rua José Bonifácio e Praça da Matriz e fazendo o percurso de volta, cercados pelo povo. No desfile, em seus carros, os blocos Batutas e Fubá, iam se rivalizando. Faziam parte dos Batutas: Ivahy Batista do Nascimento, Gino Piva, Aristides Marela, Albertino Morais, Amadeu Bucci, Jorge Pinola, Antonio Melo, Niquinho Rodrigues, Antonio Pimentel e Nestor Brandão. O Fubá com: Tonim Avancini, Tite, Nine e Alberto Cremasco, Eduardo Avancini, Canhoto Cipoli, Bépe Marela e Aldo Boretti. Em 1934, dois outros blocos se destacaram pelo esplendor e luxo das fantasias: Bloco da Navalhada e Flor do Abacate. O primeiro com: Felicio Colferai, Bernardo e Antonio Pugina, Amado Rodrigues dos Santos, Décio Galdi, Zezã Camargo, Antonio Bianchesi, Paulino Franco, Natale Lanzoni, Irineu Boretti, Doracy Nenê Farias, Jose Maria de Oliveira, Meneguim Pegoraro e Otávio Zázera; o segundo bloco com: Lourenço, Amercio, João e Julio Luquetti, Tico Pires, Toni Costa, Pedro Salgado, Tenente Pintor, Lucildo Colferai, Jose Robles, Ulisses Bizari, Virginlio Pugina,Orlando Ziliotto, Toniquinho Dias Machado, Antonio Caversan, Luiz Ribeiro, Zigomar Colferai e Carlos Bonelli.
Na matéria deixada por Torrecillas no jornal Cidade de Itapira de 24 de fevereiro de 1988, é interessante seu relato sobre um certo carnaval realizado aqui em 1910. O Theatro Sant’ana completava seus 13 anos de existência no mesmo ano em que no mês de novembro, seria inaugurado do Theatro Recreio, motivo do futuro fechamento do Sant’ana. Nesse carnaval especificamente, no Sant’ana, haviam seus proprietários contratados 30 “ moças”, que vieram de São Paulo, para animar os tres dias de folia. Primeiro no Corso, depois, no teatro. Vou escrever um trecho que o sr João comenta sobre os pecados do carnaval: “...como no carnaval tudo é pedoado.... “Viva a folia”, que fiquem esquecidos os problemas, as dividas e os compromissos...”. Dentro desse pensamento, lá se foram para as noitadas pessoas ilustres e renomadas da cidade, pagando a quantia de 15 mil réis (uma pequena fortuna), para cantar, dançar, abraçar (as moças, claro) no domingo, segunda e terça gorda, até a meia-noite. Após as 12 badaladas do sino da Igreja Matriz, da Estação da Mogiana e da Cadeia Pública, em respeito à Igreja, nenhum barulho seria feito. E ele, Joao, cita vários nomes: Francisco Vieira, Cel Joaquim Inácio, Sinhô Chagas, os doutores João e Francisco (filhos do dr. Paula Barbosa), tenente Artur Venâncio, Aristides Silva, Hortêncio Pereira da Silva (ainda jovem estudante de medicina), os dentistas João Galvão de França e Herminio Simões, Juca Xavier, Waldomiro de Freitas, Nenzinho Florindo, Finoque Soares de Alvarenga, o fazendeiro Américo Augusto Pereira, o dr. Mario da Fonseca e o Pedro Eirale (com a incumbência jornalistica), o maestro Gino Dozza, o Laudelino Pires Monteiro, Jose Godoy Salgado, Amintare Gilberti, Angelo Bianchi, Benicio Campos Brito, Romeu Trani, Clarismundo Bitencourt, o farmaceutico Saturnino Galvão de França e o dr. Antonio Ramos.
Continuando, as brincadeiras de carnaval sempre acabavam em água. Bisnagas e laranjinhas perfumadas. Os baldes, ficavam para os incautos, que passando embaixo de uma janela, ficariam molhados no mesmo instante. Uma perversão do carnaval, digo em relação às laranjinhas perfumadas: enquanto que era perfume o exalar de algumas, outros continham o liquido que saira das bexigas humanas. O autor, desaparecia como que por encanto porque certamente o desfecho de tal pilhéria não seria bom.
Outra malvadeza que era feita: no quintal da casa se mantinha uma “vasca” , que imagino ser uma espécie de banheira, cheinha de água. Ao sinal do patrão, os encapuçados, agarravam os moços mais bem vestidos e chics e, a muque, os ativaram nas águas, para o desgosto das vítmas que não tinham o que fazer para escapar do banho.
Como carnaval também é sinônimo de critica, em 1914, Benicio Campos Brito, irmão de Dona Yayá, esposa do alfaiate Pepino Ferraiol, saiu pelas ruas, arrastando um banco quebrado e, atrás dele, outra pinta brava, Juca Xavier, com uma placa onde se lia: “Banco de Custeio Rural, desculpem o prejuízo”. O Banco de Custeio Rural, foi fundado em 1907, falindo em 1913, dando muito prejuízo a muita gente. No dia 15 de agosto de 1907. Foram fundadores: Dr. Paulo Barbosa, Dr. Norberto da Fonseca, Cel. Joaquim Inácio, tendo ainda como fiscais: Cel Juquinha Filadelfo, João Ribeiro Pereira da Cruz e Guahyba Varella. O Cap. Juca Salles, pescador inveterado, saiu como Pirangueiro: com canoa, varas de pesca, redes, samburás e um dourado empalhado que enfeitava seu escritório.
Uma das bandas que animavam os carnavais, era a Banda Maluca. Eram membros da Banda Lyra e da Italo Brasileira, que tocavam o mais desencontrado possivel para arrancar as gargalhadas dos assistentes. Suas roupas também eram extravagantes, seguindo o exemplo do maestro Bépe Marela. Todo estilizado, fazia como ninguém as mímicas perfeitas, uma vez que era ator. Torrecillas lembra outrossim, de Zé Candóia (Jose Nozari). Ele e seus amigos, desfilavam o “Zoológico”, que dedicava às crianças e jovens, que ele tanto amava.




Fontes: http://ameapalavra.blogspot.com/2011/03/o-carnaval-e-o-cristao.html
http://www.fantasiaszepelim.com.br/
http://blogs.estadao.com.br/reclames-do-estadao/?s=CARNAVAL&submit=OK
http://conhecaalvinopolis.blogspot.com/2009/01/cultura-03.html
Fotografias do site Tempos Saudosos – A historia Ilustrada de Itapira, Jacomo Mandatto – O livro de Itapira, Odette Coppos



Nas décadas de 80 e 90, Itapira chegou a ter mais de seis grandes escolas de samba, registradas através das lentes dos jornais de então. Minha mulher lembra bem, como também outros itapirenses. Mas isto é matéria para uma próxima edição. O que eu gostaria de refletir mesmo é sobre o destino do carnaval de Itapira. Penso que o desfile deveria privilegiar a história da nossa cidade. Por aquilo que já reescrevi neste jornal e, acrescentei muito no blog Itapira Historico e Cultural, dá até para fazer novela, filme, teatro, sobre os acontecimentos e pessoas que aqui viveram desde a fundação da cidade em 1820. Já imaginaram, uma escola mostrando a história do Comendador João Cintra e seus escravos; de Pereira e Moraes erigindo a capela e da vida como acontecia naquele tempo no século XIX; do Delegado Joaquim Firmino; da vida e obra do Comendador Virgolino de Oliveira; dos Centros Espíritas e do preconceito lá em 1900; da vida política e seus ícones; da Igreja Brasileira e sua relação com a cidade; dos simbolos politico-administrativos de Itapira; das intempéries e doenças que assolaram este solo e o papel dos médicos, verdadeiros heróis, nesse enfrentamento; de seus personagens excentricos; do Café, Italianos e fazendas; do comércio e seu desenvolvimento; o surgimento das indústrias; dos músicos e sua bandas; dos escritores e poetas penhenses. Tem muito para ser lembrado e encenado na avenida. A responsabilidade não pode ser da Prefeitura somente. A cidade como um todo, deveria participar de alguma maneira nesta festa que é cultural em Itapira desde o inicio do século passado. Sou membro da Museologia Porto, da Alice Semedo, que ao ser questionada sobre o papel dos museus no âmbito cultural diz:
“ ... A participação social nas atividades culturais produzida pelo meio local deve ser um ato cultural de responsabilidade compartilhada entre poder público, sociedade civil organizada, e outras sociedades estabelecidas. “Cada lugar, é a sua maneira, o mundo”, segundo o pensamento do célebre geógrafo Milton Santos.
Percebe-se a ausência de ações sociais protagonizadoras, que contribuam com o fortalecimento do sentimento de pertencer relacionado a todo tipo de cultura produzida pelo homem local. Reconstruir cotidianamente a identidade do território com os seus traços originais, o seu patrimônio simbólico despertaria a sensibilização da comunidade para a relevância da sua participação política em busca de uma constante transformação diante uma realidade existente no entorno do seu meio ambiente. Restaurar a memória social do lugar e relacionar aos fatos cotidianos que ressoem o momento presente vivenciado pelo local, para compreender melhor a sua essência na linha do tempo. Isto apontaria o exercício pleno da cidadania no sentido de desconstruir os pilares de quaisquer tipos de preconceitos.
A proposição desta reflexão cultural contaria com todas as entidades envolvidas no problema. A sua participação no formato regimental do evento, e conseqüentemente a capilarização na sociedade civil. Essa seria uma experiência laboratorial de convivência cidadã marcada pela diversidade cultural e interdependência.”
Creio que o que ela diz, explica bem aquilo que eu penso. Todos somos responsáveis pelas ações culturais em Itapira. A Prefeitura é imprescindível claro, mas é a sociedade civil que deve dar o respaldo para aqueles que de coração reto, amem de verdade o carnaval e seus desfiles.


CULTURAL

Marchinhas De carnaval

ALLAH-LÁ-Ô
Haroldo Lobo-Nássara, 1940

Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô ô

Mas que calor, ô ô ô ô ô ô
Atravessamos o deserto do Saara
O sol estava quente
Queimou a nossa cara

Viemos do Egito
E muitas vezes
Nós tivemos que rezar
Allah! allah! allah, meu bom allah!
Mande água pra ioiô
Mande água pra iaiá
Allah! meu bom allah




CACHAÇA
Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato, 1953

Você pensa que cachaça é água
Cachaça não é água não
Cachaça vem do alambique
E água vem do ribeirão

Pode me faltar tudo na vida
Arroz feijão e pão
Pode me faltar manteiga
E tudo mais não faz falta não
Pode me faltar o amor
Há, há, há, há!
Isto até acho graça
Só não quero que me falte
A danada da cachaça



CABELEIRA DO ZEZÉ
João Roberto Kelly-Roberto Faissal, 1963

Olha a cabeleira do zezé
Será que ele é
Será que ele é

Será que ele é bossa nova
Será que ele é maomé
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é

Corta o cabelo dele!
Corta o cabelo dele!



MAMÃE EU QUERO
Jararaca-Vicente Paiva, 1936

Mamãe eu quero, mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar
Dá a chupeta, dá a chupeta
Dá a chupeta pro bebe não chorar

Dorme filhinho do meu coração
Pega a mamadeira e vem entrá pro meu cordão
Eu tenho uma irmã que se chama Ana
De piscar o olho já ficou sem a pestana

Olho as pequenas mas daquele jeito
Tenho muita pena não ser criança de peito
Eu tenho uma irmã que é fenomenal
Ela é da bossa e o marido é um boçal



Fonte: http://www.suapesquisa.com/carnaval/marchinhas_carnaval.htm

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