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quinta-feira, 23 de junho de 2011

O INICIO DO ESPIRITISMO NO CHÃO PENHENSE, JÁ TÃO DISTANTE




Foto de Itapira em 1880




Para quem pensa que o Espiritismo existe a um bom tempo em nossa cidade, engana-se. Ele é centenário em Itapira. Estou falando do Centro Perdão, Amor e Caridade, fundado aqui, em 1901 e de um segundo, em 1914, este último com quase 100 anos, o Centro Espírita Luiz Gonzaga.
Analisando o livro de Carlos Rodrigues Brandão, Memória do Sagrado, encontramos noticias, segundo o historiador, que o movimento Espírita, nasceu em Itapira, timidamente no início e, quando atingiu pessoas de formação sólida e de posses, alcançou um numero maior de seguidores. A gente humilde aceitou os ensinamentos e também gente que tinha uma vida ativa na sociedade, por exemplo, nos sindicatos e na política.
Diferentemente dos evangélicos que vieram para cá e não atuaram nos destinos da cidade naquele inicio de pregação, os Espíritas propagaram sua doutrina e assumiram postos de destaque na sociedade. Em nome de um espaço liberal e não católico, fizeram alianças com os maçons, com a Igreja Brasileira, com liberais (livre pensamento) e em menor grau, com os evangélicos.
Até um jornal, O Clarim, foi usado para difusão das idéias e crenças espíritas. Era distribuído à noite, pela cidade toda (centro), inclusive na porta do Vigário da Penha. O proselitismo espírita usava de um meio de comunicação eficaz para atrair pessoas. Nas reuniões de estudos e trabalhos, diante da doutrina codificada de Alan Kardec, todos iam conhecendo a Fé Espírita e a prática da Caridade. O Kardecismo tem bases científicas e acredita na reencarnação. Nada novo, pois os hindus também crêem. A diferença é que foi elaborada por uma pessoa de cultura européia e inspirada, que alicerçou na ciência e nos evangelhos a existência dos espíritos e sua comunicação com o mundo dos vivos.
Vemos no Jornal A Cidade de Itapira em 1908, um trecho que procura definir os espíritas: “ ...Itapira também não escapou dessa mal que vai grassando lá pelos altos da Santa Cruz, onde existe uma casa, na qual de tempos em tempos alguns desocupados em reunião espírita... Depois que essa mania de espiritismo começou a se desenvolver entre os simples da Santa Cruz, os médicos começaram a sentir uma diminuição na suas receitas. (26/04/1908).
Em 1916, referindo-se ao O Clarim, (Órgão Espírita da cidade de Matão) vemos o pedido no Jornal A Cidade de Itapira: “... Aos distribuidores e propagandistas nesta cidade de “O Clarim”, jornal espírita, recomendando que meditem nas palavras infra do Príncipe dos Poetas Brasileiros ...(aparece um discurso de Olavo Bilac sobre o Espiritismo). Se é assim, acho que é faltar aos princípios mais elementares da boa educação – para não dizer outra coisa – meterem à meia noite – hora fatídica de assombração – debaixo da porta de um sacerdote católico o referido Campeão d’Além Tumulo, a não ser que esses senhores tenham a justificá-los o diagnóstico feitos pelas grandes sumidades médicas do Brasil e de todas as nações civilizadas do mundo: - são uns loucos os que praticam o espiritismo. (13/01/1916).
Coube ao Cônego Artur Barbosa Teixeira de Guerra Leal, português, que ficou em Itapira de 14 de abril de 1915 a 11 de fevereiro de 1923, a árdua missão de combater a Igreja Brasileira, como também o Espiritismo. Segundo relatos dos historiadores, cujos livros, estão no museu histórico, ele foi de um temperamento forte que fez amigos e inimigos, mesmo entre os católicos tradicionais. Alguns achavam que o Cônego não possuía habilidades para levar a Igreja nos momentos dos mais graves conflitos. Vejamos. Ainda em 1916, no Jornal A Cidade de Itapira, existe o seguinte texto: “...Senhor Bispo, depois disto, ainda diz o Padre Guerra que esta acabada a Igreja Brasileira em Itapira; será possível? Que o diga S. Exc. sabendo que tenciona transferir ele daqui, não devia fazer isso, pois ele tem conseguido boas conversões e assim ele já conseguiu organizar nada menos de dois centros espíritas, ambos estão já registrados de acordo com a Lei, a Maçonaria esta aumentando seu templo mais do dobro, a Igreja Protestante vai aumentar visto que o atual é pequeno para as reuniões, de modo que ele continuando aqui conseguirá converter toda a população para a nossa Santa Madre Igreja. A Igreja Brasileira tinha sumido, no entanto depois da vinda de Guerra para aqui, ela esta aí fazendo duas festas...” (17/09/1916)
Em relação aos Espíritas, a Igreja combatia a nova religião no campo das idéias e a classe médica no campo da ciência. Ora arrefecia, ora empedernia-se. Num primeiro momento acusados de loucos e no seguinte de falsos profetas. Sofreram uma grande perseguição e preconceitos no inicio do proselitismo em terras brasileiras. Mas tudo isto não impediu seu crescimento e arregimentação de fiéis. O nosso povo é um povo religioso por excelência e busca suas respostas. E diversas pessoas encontraram essa resposta no Espiritismo. O trabalho social é imenso, e para se ter uma idéia disto é só pensar na fundação do Hospital Américo Bairral que saiu das entranhas do Centro Espírita Luiz Gonzaga. Agora, passo a relatar as pesquisas sobre os dois centros retro-citados.




CENTRO ESPIRITA PERDÃO, AMOR E CARIDADE











Fui muito bem recebido na casa de Sérgio Villar, médium de incorporação, responsável pelo Centro Perdão, Amor Caridade que tem no Núcleo Assistencial Espírita Cristão Chico Xavier (1986) seu braço de trabalho social bastante ativo. Faz a distribuição de cestas básicas, sopa, chás fitoterápicos, pomadas, cuidados sociais e, tem também a preocupação com a formação espiritual de seus membros e simpatizantes. Existem três grupos de estudos, 120 voluntários e até uma TV pela internet “A Caminho do Luz”. Ele, ainda, faz palestras em várias cidades brasileiras porque, como conta com intensa alegria, conheceu o trabalho e a pessoa de Chico Xavier, o maior expoente espírita da atualidade. Chico Xavier recebeu de nossa cidade o Titulo de Cidadão Itapirense em 24 de outubro de 1974. Então, o Centro mantém no contemporâneo, a missão nascida no começo do século passado, por vontade de algumas pessoas. Na ata inicial lemos os nomes de: Leopoldo Cipriano Ladeira, João Pereira da Silva, José Rodolpho de Lima, Clementino da Costa Bueno, Joana da Silva Ladeira e a menina Rodosina Ladeira, em 14 de março de 1901.
Em 17/02/2011, recebemos a visita de representantes do Espiritismo Kardecista de Itapira, sendo o Sr. Sergio Villar, um dos responsáveis pelo centro NUCLEO ASSISTENCIAL ESPIRITA CRISTÃO CHICO XAVIER e o Sr. Carlos Baccelli de Uberaba-MG, preletor. Este último viveu quase 25 anos ao lado de Chico e esteve em Itapira para palestras. Os dois foram muito simpáticos e atenciosos. O servidor municipal Marcelo Henrique Rosa que trabalha no museu, pediu que os mesmos fossem fotografados ao lado de uma muda de ipê amarelo plantada por ele, no parque, ao lado do equipamento cultural. Abaixo vai uma das fotos.







Sergio Villar, Marcelo Rosa e Carlos Bacelli





CENTRO ESPIRITA LUIZ GONZAGA





















No outro Centro, Luiz Gonzaga, fui da mesma forma delicada e prestativa recebido pelo Sr. Ironildo Boselli e Dona Olga, ela como decana, do Centro. Foi idéia de Américo Machado, a construção de um local, onde se pudesse tirar da situação degradante e humilhante, os doentes mentais que perambulavam ou que estavam trancafiados na cadeia. Desde o aparecimento da cidade, seus doentes mentais eram escondidos por medo do preconceito social. Outros, os mais agressivos, eram trancados na cadeia. E, aqueles que não ofereciam perigo à sociedade, viviam da bondade alheia.









Américo Firmino Machado, foi católico praticante antes de se tornar espírita. Essa revelação veio quando estava fechado em sua sala de estudos a refletir. Diz ter ouvido com clareza uma voz que lhe dizia para estudar o Magnetismo. Depois, novamente a mesma voz pede a ele para estudar o Espiritismo. Estamos no começo do século XX. Em Itapira não havia material para estudos e ele tudo fez para conseguir livros e avançar na doutrina que vinha da Europa. Foi desenvolvendo seus dons de mediunidade e psicografia. Em 1915, junto com mais 8 pessoas fundou o grupo de estudos e trabalhos “Centro Espírita Luiz Gonzaga”.
A instituição hospitalar psiquiátrica fundada em 1936, tendo à frente o casal Onofre e Gracinda Batista, foi saudada com o nome que em vida não possuiu. Seu pai chamava-se João Bairral e, ele após sua morte, através de mensagem enviada para a esposa do Sr. César Bianchi, Dona Dalila, afirmava que seu nome era Américo Bairral. Na Ata de Sepultamento do Cemitério Municipal da Saudade, consta seu nome terreno e como motivo da morte, Diabetes. Diz ainda que morreu com 46 anos de vida e que foi casado com Dona Maria Cândida de Toledo Machado.
A preocupação de Américo Bairral era com os doentes mentais que naquele tempo eram excluídos da sociedade. Não havia lugar para eles, nem tratamento. Eram contidos através de camisas de força ou cordas. Muitos eram trancafiados nas cadeias para evitar o contato com a sociedade, que fatalmente os levavam à morte, sempre na maior solidão. Diante da mensagem do Evangelho e certo que os doentes eram possuídos por obcessores, tudo fez para reunir esses seres para sua recuperação. Além dos doentes mentais, se preocuparam com os abandonados, os morféticos, alcoólatras e criminosos por delírios da mente. Neste ponto tenho algo em comum com o problema. Meu pai, me contou, quando ainda era pequeno, que na sua infância morava (era natural ) de Mairiporã e, que próximo dali, existia o famoso Instituto do Juqueri. Naquela época, era normal, o governo permitir que a população recebesse e cuidasse em suas casas de doentes vindos daquele lugar. Meu avô também os trouxe para poder aumentar a renda da família. Ele dormia com um facão embaixo do travesseiro, como arma de defesa, caso algum deles explodisse em agressividade. Dá para imaginar tal situação? É coisa de louco, tanto de um lado como do outro. E Bairral diante dessas situações, geriu esse sonho.







O hospital inicia suas atividades em 1936 com o lançamento da pedra fundamental e, em 1937, o caráter jurídico. Começo difícil e pobre. O hospital vivia apenas das doações de populares e algum auxilio da prefeitura. O número de doentes aumentava, ainda com a vinda de pessoas de outras cidades às quais Onofre visitou pedindo ajuda para edificar o nosocômio.
Na década de 60, firma-se o primeiro convênio com o Instituto Nacional de Previdência Social, carreando recursos necessários para a melhora no atendimento, tanto psiquiátrico como espiritual. Com a criação do setor particular, nova fonte de recursos é posta a serviço do Hospital, que multiplica suas tarefas e missão. Para melhorar seus conhecimentos científicos, o Instituto buscou parcerias com universidades, como a USP, Unifesp e Unicamp. Hoje leva a instituição a buscar nas pesquisas e no corpo clinico o atendimento de excelência.
Alguns nomes são de grande importância na vida desse empreendimento, que nunca serão esquecidos: Onofre e Gracinda Batista, Cesar Bianchi e sua esposa Dona Dalila, o Promotor Publico Dr. Jose Carlos de Camargo Ferraz e o Dr. Hortêncio Pereira da Silva. Claro que há mais nomes que se não foram importantes pela audácia de construir e buscar recursos, o foram pela dedicação de suas vidas à instituição, sempre balizados pelo Espiritismo.
Cesar Bianchi, manteve um bom relacionamento (diálogo) com a Igreja Católica, na Paróquia de Santo António, na pessoa do Cônego Matheus. Inclusive mereceu o Cônego, por parte de Cesar Bianchi uma carta postada no jornal, onde demonstra sua amizade pelo falecido e enumera suas virtudes, demonstrando que não havia entre eles polêmica, pois, cada um, convicto de sua fé, trabalhavam para a população procurando fazer o bem, mais que possível. Nesse caso foram derrubados os “muros” que separam os homens em suas religiões. Ainda sobre Cesar Bianchi, lemos no jornal A Cidade de Itapira de 30 de dezembro de 1990, no discurso feito por Sezefredo Fecci, onde ele diz o que pensa de seu amigo: “ ...um homem bom, caridoso, carinhoso, fraterno e sempre voltado às causas sociais. Não visava lucro ou poder, mas sim, o bem alheio...”. Nesse evento é dado à Sala de reunião das bancadas, o nome de Cesar Bianchi.

Fontes: Memória do Sagrado (1940) – Album de Itapira (1935) – A História do Sanatório Américo Bairral (1982) – História Ilustrada de Itapira (2006)






RESPONDENDO AO LEITOR:

Na reportagem de 11 de junho passado, coloquei a foto da antiga Câmara Municipal, nomeando-a, erroneamente de Cadeia Municipal, a cadeia ficava na praça e coloco aqui a foto dela.







Na reportagem do último sábado, incluí, como sempre faço, fotos de Itapira. Quando ponho a data abaixo da foto, ela se refere ao exato ano, caso contrário, é mais a titulo de ilustração. No caso da foto da Santa Casa que aparece no jornal , ela foi tirada em 1920





CULTURAL





Este desenho é de autoria de Dona Lilia Ap. Pereira da Silva e ilustrou o Livro “Carnaval Brasil”, em 1996, da João Scortecci Editora.

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